Nos finais do século dezanove o Barão de Torrados vendeu ao capitalista brasileiro Adelino Arantes as suas propriedades, situadas em Infias, então quase arredores de Braga, constituídas pelos terrenos agrícolas – três quintas – e sua casa senhorial.
Adelino Arantes, natural de S. Pedro da Balança, filho de lavradores, cedo arribou ao Brasil, onde graças ao seu pertinaz trabalho, angariou elevada fortuna. Como fornecedor do estado Pará, os seus proventos, auferidos com honrada vivência permitiram que regressasse a Portugal e passasse a residir em Braga, já que os negócios no Brasil ficariam a cargo do seu sócio.
Casado e com filhos pensou em construir na cidade, uma casa que fizesse jus à sua posição económica e social. Tendo tido a informação de que o Barão de Torrados tinha posto à venda as suas propriedades em Braga, estabeleceu contactos com este Senhor que chegaram a prolíferos. Feita a escritura de compra, Adelino Arantes, julgando que a casa senhorial do barão não condizia com os seus anseios de se impor no meio da então sociedade bracarense, optou por destruir a velha mansão e fazer uma inteiramente nova ao gosto de brasileiro endinheirado. Depois de muito pensar resolveu confiar o projecto do seu palacete a um arquitecto portuense que era o técnico de um palacete que se estava a acabar de construir na cidade do Porto.
Assim obedecendo ao estilo pretendido surgiu o Palacete Arantes, com todo o requinte que os brasileiros de “torna viagem”, estavam a lançar em Portugal – portas e janelas altas, grandes salões, banheiros espectaculares, torreão, capela etc. Custou a construção desta magnifica estrutura, que se distanciava pela sua imponência de todas as que até iam surgindo por Braga, a módica quantia de 18 contos de réis, ouro. Ali morou vários anos, os filhos mais novos ali nasceram e lá enviuvou e de novo casou.
Chamou para sua companhia um seu irmão – Monsenhor Arantes – que paroquiava um freguesia próxima de Braga. Como uma das coisas que se impunham como crente e brasileiro rico impôs ao arquitecto que no desenho do prédio, teria de ser incluída uma capela, que de facto ainda tem o Palacete onde então Monsenhor rezava missa quotidiana. Tudo corria às mil maravilhas, uma das filhas casa com um membro da melhor e mais distinta família de Braga. Passados alguns anos, os negócios do Brasil principiaram a correr mal. Por um lado, o seu sócio desbaratou a casa comercial e os bens que tinha em Portugal eram constituídos por acções do Estado Brasileiro, do Fumo e Álcool. A crise que no Brasil, e no mundo, ocorreu por volta dos anos 30 do século passado, reflectiu-se nas companhias brasileiras que não só deixaram de pagar dividendos como até as acções perderam todo seu valor total.
Perante esta situação, Adelino Arantes, resolveu vender o seu palacete, e assim remediar da melhor maneira a sua vida. Mal aconselhado e porque era um individuo confiante em todos, vendeu, em 1943 ou 44, muito mal todo conjunto – casa e quintas andou à volta de 900 contos. Retirou-se logo e após a sua segunda viuvez para um lar onde acabou os seus dias. O novo proprietário era um “volframista” em grande escala que fretava navios (estava-se ainda em guerra mundial. Todos sabemos e muito principalmente quem viveu esses calamitosos tempos, que os negócios do volfrâmio estava muito sujeito a grandes aldrabices. De manhã o quilo do volfrâmio andava à roda de 700$00 mas depois do meio já ia 800$. Era conforme a anunciada chegada dos navios cargueiros. A seriedade andava aos interesses dos aldrabões. Diziam que, de conivência com muitos fretadores, as cargas de volfrâmio, nos navios, era uma só camada superior e o resto era pura e simplesmente terra.
Descoberta a marosca muitos tiveram que despender avultadas indemnizações. Não sei se o nosso volframista foi apanhado na alhada, mas o que é certo que o negócio deu para torto e o amigo teve que empenhar por mil contos o Palacete Arantes. O ano correu e por certo por mais dívidas o palacete foi à praça, sendo arrematado por dois mil contos pelo industrial bracarense António Marinho, o titular da hipoteca de mil contos.
E é desta maneira que o palacete foi parar à família Marinho. Continuando com a história, António Marinho, que era viúvo sem filhos casou em 1949.com Dona Mara Amélia Cunha. Poucos anos decorridos, António Marinho, faleceu ficando a sua viúva como usufrutuária das Empresas de Transportes Auto-Motora fundada e pertença de António Marinho. Depois de várias e demoradas diligências, formou-se uma sociedade constituída pela viúva e vários sobrinhos de ambos lados que continuaram com a exploração de camionagem. Com o 25 de Abril, dá-se a nacionalização mas, o Palacete Arantes, não fazia parte do espólio das empresas e ficou de parte.
Entretanto morre Dona Maria Amélia e o palacete entra para os herdeiros desta Senhora que, por sua vez não estavam interessados nem podiam habitar tão grande casa e de acordo resolveram o problema como hoje se encontra.
Esta é, pois a história daquele palacete que está hoje ao serviço do Turismo, devendo notar que a sua estrutura que assinala o gosto dos “Brasileiros de Torna Viagem” se mantém, no essencial, com o foi projectado em 1900.
Braga, 19 de Agosto de 2012
LUÍS COSTA
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